Zélia Mendonça
Zélia Mendonça
por Ferreira Gullar
“A arte de Zélia Mendonça deriva da nova tendência que, nas últimas décadas, marcou a arte contemporânea, tanto pela audácia como às vezes pela negação da verdadeira criação estética. Não é o caso das obras de Zélia Mendonça que, se não se vale das técnica tradicionais, tampouco mergulha na irreverência fácil. Pelo contrário, valendo se de objetos como bustos, cadeiras, lâmpadas, ela os transfigura, criando coisas fascinantes, ainda que originárias de nosso cotidiano. Aliás, o fascínio vem dessa transfiguração. É, portanto, desse choque, do banal com o onírico, que nasce o encanto das obras que ela inventa. Essa invenção – ou reinvenção – seja de um torso feminino seja de uma simples cadeira – dá-se pela profusão das cores e dos elementos inusitados de que lança mão para os recobrir e nos arrastar para o sonho. Essas obras às vezes evocam os cenários de uma espécie de teatro surreal e, ao mesmo tempo, parecem impregnadas da magia própria aos rituais da cultura negra brasileira. É, por isso mesmo, uma mescla do sofisticado e do popular.”
Zélia Mendonça por Werner Krapf – artista plástico, arte-educador e crítico de arte
O trabalho da artista Zélia Mendonça nos evoca sensações tantas que estas precisam ser decantadas com cuidado e vagar. Há dentro de sua práxis e poesia pessoal, uma intensa evocação de memórias afetivas que se transformam e derivam em produtos estéticos re-significados com a força criadora e criativa de seu próprio impulso gerador. Questões ordinárias, muitas vezes banais aos olhares mais desatentos, acabam por ganhar força e impulso criador e desta forma, serem re-significados e assim, os sentimentos surgidos em tempos de outrora são, de forma gratuita e generosa, compartilhadas com seus possíveis expectadores no momento da fruição das obras. Com uma abordagem que nos traz lembranças da tradição da Arte, ao mesmo tempo que se conecta com o que há de contemporâneo na forma que traz à materialidade o seu trabalho, a artista mescla um discurso, uma narrativa própria de nosso tempo, ao mesmo tempo que se utiliza, em suas escolhas matéricas, de elementos tão próprios de nossa cultura brasileira, daquela que, do interior e rincões de nossa terra, já temos saudades de práticas que se foram. Fuxicos, práticas artesanais, pontos e prespontos, pequenos objetos – trazem ao seu trabalho frescor, vivacidade, interesse, foco e ponto de atenção. Não tem como não lembrar e relacionar seu trabalho, de quando em quando, à historicidade da Arte e da Cultura – do Pop, da arte marginal – de Bispo do Rosário... como não nos remeter, com seus dorsos e bustos, à forma como este artista também se exprimia?! O que nos importa e nos encanta, é que de certa forma, sua obra nos conecta com o que nos é também precioso – o afeto e o sentimento de pertencimento, o de ser “humano”, capaz de evocar, através de novas experiências de vida – a maternidade – aquilo que o tem de mais profundo – seu poder criativo, que por fim, sempre se fará Vida.